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João da Gama Figueiras Lima, Lelé

Haroldo Pinheiro

João da Gama Figueiras Lima, Lelé

Haroldo Pinheiro

Arquitetura sf. 1. Arte de edificar.

Essa definição do dicionário Aurélio sintetiza bem a produção do Lelé em seus 59 anos de Arquitetura. Em sua obra, o equilíbrio das proporções, a dignidade dos espaços e a elegância do desenho dos elementos de construção, invariavelmente apresentados com lógica e tecnologias criativas e contemporâneas, tudo é consequência de uma trajetória pessoal e profissional coerente e determinada.

Em 1957, apenas dois anos após a diplomação no curso na Universidade do Brasil, deu um passo importante para sua formação ao trocar o Rio de Janeiro pelo entusiasmo das obras de Brasília. Como arquiteto do IAPB, foi responsável pela obra da SQS 108 – projeto de Oscar Niemeyer, onde fica o primeiro bloco habitacional inaugurado na Nova Capital – e por outras obras de conjuntos residenciais, sempre caracterizadas por soluções técnicas inventivas e racionais.

Convidado por Niemeyer em 1962, participou da criação da UnB como professor responsável pelo tronco de Tecnologia da Construção e coordenador de pós-graduação. Como secretário executivo do Centro de Planejamento, gerenciou projetos e obras da UnB, consolidando sua opção pela construção racionalizada. Deixou a Universidade na demissão coletiva de 1965, em protesto contra o regime instalado na UnB, que punia e afastava arbitrariamente professores e funcionários.

Fora da UnB, projetou o Hospital Regional de Taguatinga: obra harmoniosa, com técnica construtiva apurada, cuja execução também dirigiu como consultor da Fundação Hospitalar do DF – e que já o colocou em posição destacada no campo da arquitetura hospitalar. Entre outras obras marcantes, realizou também o Hospital Sarah no Centro de Brasília – primeiro bom resultado da parceria com o Dr. Aloysio Campos da Paz Jr., que mais tarde foi determinante para as vidas do arquiteto e do médico.

Em 1982, deslocou-se para Abadiânia/GO onde, com os limitados recursos de uma pequena prefeitura, pôs – literalmente – mãos à obra, e criou um inovador processo de pré-fabricação de peças leves em argamassa armada para montagem de pontes para estradas vicinais e escolas rurais.

A partir dessa experiência, construiu e dirigiu fábricas de escolas e de saneamento no Rio de Janeiro e em Salvador. Também cedeu essa tecnologia para outras fábricas em Brasília, São Paulo, Campinas, Natal e Belém.

Na FAEC (Fábrica de Equipamentos Comunitários de Salvador), desenvolveu novos sistemas para produção de escolas urbanas (com opção para dois pavimentos), creches e hospitais. Nessa fase, iniciou a produção para montagem de três unidades de 180 leitos para a Rede Sarah de Hospitais: em Salvador, São Luís e Curitiba. Dificuldades administrativas com o terreno da primeira obra levaram à suspensão do programa, que apenas adormeceu por algum tempo.

Suas experiências exitosas culminaram em 1991 no projeto CIAC (Centros Integrados de Apoio à Criança) idealizado por Darcy Ribeiro para o Governo Collor, que durou até que desvios no programa acertado forçaram o afastamento voluntário de Lelé e sua equipe técnica já no início de 1992.

Mas ainda em 1991, paralelamente ao programa CIAC, o projeto para o hospital Sarah/Salvador vinha sendo adaptado em Brasília para industrialização em um sistema construtivo misto: com infraestrutura original pré-fabricada em argamassa armada (galerias) e nova superestrutura industrializada em aço (pilares, vigas e cobertura). Essa obra estimulou a retomada do projeto da Rede Sarah de Hospitais e a criação do CTRS (Centro de Tecnologia da Rede Sarah) em 1993.

A “mixagem” de tecnologias utilizadas para na realização do Sarah/Salvador funcionou muito bem e abriu um novo e amplo caminho de industrialização, que produziu mais três hospitais (CE, MG e RJ), dois postos avançados (AP e PA), um Centro de Reabilitação (RJ), um Centro Internacional de Neurociências e Reabilitação (DF), um auditório/teatro e um edifício garagem vinculados ao primeiro hospital Sarah (DF), um almoxarifado e oficina de equipamentos (DF) e um Centro Comunitário (MA) – além da reforma do próprio Sarah/São Luís e a ampliação do Sarah/Salvador.

A alta qualidade construtiva e o baixo custo de execução levaram o TCU (Tribunal de Contas da União) a encomendar oito sedes estaduais projetadas e fabricadas no CTRS em Salvador e montadas em Aracaju, BH, Cuiabá, Maceió, Natal, Salvador, Teresina e Vitória. Outras instâncias públicas também vinham sendo atendidas.

Entretanto, em 2003, um acórdão do mesmo TCU, paradoxalmente, entendeu que o CTRS não poderia mais atender a pedidos externos, mesmo que exclusivamente para outros órgãos públicos.

Na impossibilidade de utilização do CTRS para os fins idealizados, o Lelé obteve do Ministério da Justiça o selo de OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) para um novo “Instituto João Filgueiras Lima, Lelé”, depois rebatizado como IBTH (Instituto Brasileiro de Tecnologia do Habitat), que iniciou atividades em 2009, voltado para os mesmos ideais inviabilizados no CTRS.

O Instituto projetou a sede do Tribunal Regional do Trabalho da Bahia (apenas um dos edifícios do exemplar conjunto foi construído), um edifício anexo do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia e deixou diversos outros projetos para obras públicas ainda não realizadas.

Lelé faleceu em maio de 2014. Foi um arquiteto pleno – a um só tempo professor, mestre de obras e cientista, que nasceu carioca, se formou candango e foi adotado como soteropolitano. Por tudo, um brasileiro admirável.

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Sobre JFL, Lelé

Haroldo Pinheiro

ELE
LELÉ

colaboradores

Adalberto Vilela

Arquiteto formado pela Universidade de Brasília (2003) e Mestre em Arquitetura e Urbanismo pelo Programa de Pós-Graduação da FAU/UnB (2011). Concluiu em 2018 o doutorado pelo Instituto de História e Teoria da Arquitetura (gta) do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zürich), com bolsa do governo suíço (Swiss Government Excellence Scholarship). Dentre as áreas de interesse, destacam-se as disciplinas de história e tecnologia da construção, com ênfase na produção moderna. Trabalhou com restauro e atualmente se dedica à pesquisa voltada para os seguintes temas: produção da arquitetura, história da construção, pré-fabricação, design industrial e suas conexões com o ambiente construído. Atualmente integra o corpo docente da Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design da Universidade Federal de Uberlândia (FAUeD/UFU), onde coordena, desde 2022, o Laboratório de Projetos em Arquitetura, Urbanismo e Design (LAPEx). É autor do livro A casa na obra de João Filgueiras Lima, Lelé (EdUnB, 2017).

 

Ana Carolina de Souza Bierrenbach

Arquiteta e urbanista (FAU-MACK, 1993), historiadora (FFLCH-USP, 1995), mestre (PPGAU-UFBA, 2001), doutora (ETSAB-UPC, 2006) e pós-doutora (UNIVERSITÀ DEGLI STUDI DI NAPOLI FEDERICO II – 2016-2017). Atualmente realiza pós-doutorado (UFF, 2022). Atua como professora associada III da FAUFBA e professora permanente do PPGAU-UFBA. Suas pesquisas focam na produção arquitetônica de Lina Bo Bardi, na arquitetura moderna de Salvador e nas teorias e práticas sobre o restauro da arquitetura moderna.

 

André Marques

Arquiteto (USJT, 2003), mestre e doutor (FAU Mackenzie, 2012 e 2018), com especialização em Conforto Ambiental e Eficiência Energética (Fupam, FAU USP, 2006). Professor de tecnologia e projeto de arquitetura na faculdade de arquitetura Mackenzie, é autor do livro Lelé: diálogos com Neutra e Prouvé (Romano Guerra/Nhamerica, 2020).

 

Ceila Cardoso

Arquiteta com pós-doutorado em Património e Design pela Universidade Tecnológica de Delft, na Secção de Património e Arquitetura (2018-2019) e pelo Centro de Estudos em Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Porto (2018). Doutor em Arquitetura e Urbanismo pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia na área de Conservação e Restauro (2014). Possui mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo campus São Carlos (2004) e graduação em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (2000). Participou da equipe do Centro de Tecnologia da Rede Sarah Kubistchek de 1996 a 2000, sob a liderança do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, e contribuiu posteriormente com o desenvolvimento de projetos de autoria do mesmo. É Professora Adjunta de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, lecionando desde 2009 disciplinas como Ateliê de Design, Teoria e História da Arquitetura, Atividade Curricular em Comunidade e Sociedade e Trabalho Final de Graduação. É autora e proponente da atividade ACCS-Pré-Fabricação in Arquitetura, oferecida desde 2015 pela FAUFBA. Coordena o grupo de pesquisa FABER-Laboratório de Arquitetura, Construção, Tecnologia e Patrimônio, além de participar do grupo de pesquisa LUGAR COMUM, do programa PPGAU-FAUFBA do qual é pesquisadora associada. Possui produção acadêmica, pesquisa e extensão com ênfase em teoria, projeto e crítica arquitetônica. Atuou como coordenadora do Núcleo de Tecnologia, Design e Planejamento da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia. Atualmente coordena e desenvolve pesquisa, ensino e extensão nas áreas de Reutilização de edifícios industriais e modernos e Pré-fabricação em arquitetura, com estudos avançados sobre a obra do arquiteto João Filgueiras Lima, Lelé

 

Daniel Juracy Mellado Paz

Arquiteto e urbanista, formado em 2003 pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia - UFBA. É mestre em Arquitetura e Urbanismo desde 2007 pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA, e Doutor em Arquitetura e Urbanismo pelo mesmo programa desde 2020.

 

Edson Fernandes D’Oliveira Santos Neto

Arquiteto e Urbanista (2001) com experiência em projetos de arquitetura e de urbanismo de diversos portes, e Professor da Faculdade de Arquitetura da UFBA desde 2011, onde ensina disciplinas de Projeto de Arquitetura e Urbanismo e de Tecnologias Construtivas. Atualmente, coordena o Núcleo de Tecnologia, Projeto e Planejamento da FA-UFBA e é membro dos Grupos de Pesquisa “Projeto, Cidade e Memória” e “FABER”, nos quais desenvolve pesquisas sobre história da construção e ensino de construção para a arquitetura. Possui Mestrado (2009) e Doutorado (2019) pelo PPG-AU/UFBA.

 

Haroldo Pinheiro Villar de Queiroz

Arquiteto, atuou com Lelé de 1974 a 2014, de desenhista a parceiro em mais de 60 projetos e obras. Foi presidente nacional do IAB em duas gestões e presidente fundador do CAU/BR também por dois mandatos. É professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo do IESB (Centro de Educação Superior de Brasília).

José Fernando Marinho Minho

Arquiteto e urbanista, professor da FAUFBA - Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia. Atuou na RENURB - Companhia de Renovação Urbana de Salvador, na FAEC - Fábrica de Equipamentos Comunitários, no CTRS - Centro de Tecnologia da Rede Sarah e no IBTH - Instituto Brasileiro de Tecnologia do Habitat sob a coordenação do Arquiteto João Filgueiras Lima, Lelé. 

 

Marcela Porto

Arquiteta e urbanista formada pela Universidade Salvador - UNIFACS e atua como profissional autônoma na elaboração de projetos arquitetônicos, urbanísticos e paisagísticos. Atualmente é pesquisadora no programa de pós-graduação em Reabilitação Ambiental Sustentável Arquitetônica e Urbanística - Reabilita FAU UnB.

 

Marieli Azoia Lukiantchuki

Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Estadual de Maringá (2006), mestrado e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos da Universidade de São Paulo (IAU/USP). Atualmente é professora adjunta da Universidade Estadual de Maringá (PR), do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, e professora do Programa Associado de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo do UEM/UEL.

 

Michel Hoog Chaui do Vale

Arquiteto na Companhia do Metropolitano de São Paulo, Técnico em Paisagismo (SENAC, 2018), Graduado em Arquitetura e Urbanismo (FAU USP, 2005), Especialista em Engenharia Urbana (COPPE UFRJ, 2009), Mestre em Planejamento Urbano (FAU USP, 2016), Doutorando em História da Arquitetura e Urbanismo (FAU USP, 2019-24* - previsão de conclusão). 

 

Nivaldo Andrade

Arquiteto e urbanista, professor da FAUFBA - Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia e ex-presidente nacional do IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil. 

 

Rosana Muñoz

Engenheira civil, mestre na área de construção e doutora em Arquitetura e Urbanismo (conservação e restauro) pela Universidade Federal da Bahia. Realizou pós-doutorado na Universidade do Minho, em Portugal (2014-2015), e na Universidade Estadual de Campinas no Brasil (2021-2022). Atua na área acadêmica como professora da graduação e da pós-graduação da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, é pesquisadora do NTPR - Núcleo de Tecnologia da Preservação e da Restauração e do FABER Laboratório de Arquitetura, Construção, Tecnologia e Patrimônio, e coordenadora do grupo de pesquisa CREPE - Conservação e Reabilitação Estrutural do Patrimônio Edificado. Tem experiência na conservação e na restauração do patrimônio arquitetônico edificado, com destaque para o comportamento mecânico e dinâmico de edificações de valor patrimonial.

 

Sergio Ekerman

Diretor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (2020-2024) e professor do Mestrado Profissional em Conservação e Restauração de Monumentos e Núcleos Históricos – MP-Cecre. Recebeu em 2019 o 14º Prêmio Arquiteto e Urbanista do ano da FNA, junto a arquiteta e urbanista Olivia de Oliveira, pelo projeto da nova sede do programa Neojiba no Parque do Queimado, em Salvador. É pesquisador da obra de Lelé desde 2005, tendo defendido em 2018 no PPG-AU UFBA a tese de doutorado "Tecnologia e Transformação: pré-fabricação para reestruturação de bairros populares e assistência técnica à autoconstrução".

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